Síndrome de West
Autor:
Patrícia Vieira Fernandes - Fisioterapeuta do Hospital Barra D Or,
graduada pela UFPE , pós-graduanda em Terapia Intensiva pela UNESA
Introdução
Em 1841, West em uma carta dramática ao editor do " The
Lancet" , apresentou o problema de seu filho com espasmos em flexão que
se repetiam diariamente em ataques de 10 a 20 contrações que levaram a
criança a um retardo mental, apesar de todos os tratamentos usados e
possíveis para aquela época.
Esta síndrome neurológica foi descrita
pela primeira vez em 1949 por Vasquez y Turner para sociedade Argentina
de Pediatria, com dez casos de uma "nova síndrome" que apresentavam
crises nos lactantes, com alterações específicas no traçado
eletroencefalográfico (EEG), estando associadas à deterioração mental ,
as quais propuseram chamar Epilepsia em Flexão.
Em 1952, os autores
Gibbs e Gibbs criaram o termo Hipsarritmia (hypos= altura e rhytmos=
ritmo) para o registro EEG destes pacientes, o que passou a caracterizar
a maioria das descrições desta síndrome. Portanto, trata-se de uma
entidade eletroclínica caracterizada por espasmos quase sempre em flexão
e por um traçado EEG típico denominado hipsarritmia ou disritmia maior
lenta. As crises clínicas têm recebido outras denominações: espasmos
saudatórios , espasmo infantil, massive jerks, Blitz und NichtKrampf,
tic de salaam e pequeno mal propulsivo
Etiologia
A Síndrome
de West pode ser dividida em dois grupos, com relação à causa: o
criptogênio ( quando a causa é desconhecida ), onde o lactente é normal
até os inícios dos espasmos, sem qualquer lesão cerebral detectável; e o
grupo sintomático ( de causa conhecida) , onde há prévio
desenvolvimento neuropsicomotor anormal , alterações ao exame
neurológico e/ou lesões cerebrais identificadas por exames de imagem (
tomografia computadorizada, ressonância magnética, etc). Em 1991, foi
proposta a hipótese da existência de uma forma idiopática , com evolução
benigna no tratamento em curto prazo.
Em aproximadamente 80% dos
casos a síndrome de West é secundária, o que vale dizer que depende de
uma lesão cerebral orgânica. Em muitos casos é possível determinar a
etiologia da síndrome: encefalites a vírus, anoxia neonatal, traumatismo
de parto , toxoplasmose, Síndrome de Aicardi, esclerose tuberosea de
Bounerville. Na presença da Síndrome de West, uma exaustiva investigação
deve ser feita: TC ou RNM, teste de testagem de erros inatos do
metabolismo. Outro tipo de crises, além dos espasmos, pode estar também
associado.
Incidência
Inicia-se quase sempre no primeiro
ano de vida , principalmente entre os 4 e 7 meses de idade. O sexo
masculino é o mais afetado , na proporção de 2 para 1.
Aspectos
Eletroencefalográficos
As características principais e um registro
de EEG com hipsarritmia são:
Desorganização marcante e constante da
atividade basal;
Elevada amplitude dos potenciais;
Ondas lentas
delta de voltagem muito elevada ( " ondas em montanhas " );
Períodos
(salvas), habitualmente breves, de poliondas e polipontas onda;
Período
de atenuação da voltagem que, em alguns casos, parece chegar a silêncio
elétrico.
O eletroencefalograma, ao lado do quadro clínico, é
fundamental para diagnóstico , recebendo traçado anormal o nome
hipsarritmia. O EEG se caracteriza pelo seu aspecto anárquico, com ondas
de grande amplitude , lentas e pontas-ondas lentas. Não há ritmo de
base organizada.
Quadro Clínico
A síndrome de West consiste
numa tríade de sinais clínicos e eletroencefalográficos atraso do
desenvolvimento , espasmos infantis e traçado eletroencefalográfico com
padrão de hipsarritmia. As crises são traduzidas por espasmos ou uma
salva de espasmos com seguintes características flexão súbita da cabeça,
com abdução dos membros superiores e flexão da pernas ( espasmos
mioclônico maciço ) é comum a emissão de um grito por ocasião do
espasmo. Cada crise dura em média alguns segundos . As vezes as crises
são representadas apenas por flexão da cabeça ( tique de sabam ou
"espasmo saudatório" ) . As crises são freqüentes particularmente
durante a vigília, podendo chegar até a centena ou mais por dia.
As
contrações são breves, maciças , simétricas , levando-se os membros
superiores para frente e para fora e flexionando os músculos o abdômen.
São crianças hipotônicas. Em princípio, o diagnóstico não é fácil, sendo
os espasmos confundidos com cólicas ou com reflexo de Moro. Outra
manifestação importante é o retardo mental que, em boa parcela dos
casos, pode ser evitado pelo tratamento precoce do quadro. Diz-se que as
alterações e características clínicas e evolutivas desta síndrome
dependem das condições prévias do SNC do lactante antes dos surgimentos
das crises. Com a maturação da criança , em geral as crises diminuem e
desaparecem por volta do quarto ou quinto ano de vida.
Evolução
, complicação e prognóstico
Quase sempre é uma perda de cunho
neuropsíquico para criança afetada, esta perda está na dependência da
precocidade de diagnóstico e da intervenção aplicada. A hipsarritmia
pode desaparecer ou se transformar no decorrer do tempo. A criança
apresenta sérias complicações respiratórias, devido aos freqüentes
espasmos, deformidades , principalmente de MMSS e MMII. Pode ocorrer
subluxação do quadril.
Há possibilidade de remissão total de
espasmos infantis considerados criptogéticos, mas não há confirmação
científica de remissão definitiva para os casos mais graves associados a
outras condições ou patologias neurológicas.
Crianças apresentam
sinais e sintomas de dano cerebral podem vir a apresentar um quadro de
déficit intelectual a posterior, elas devem ser precocemente estimuladas
para diminuir a seu grau de compartimento intelectual e psíquico.
Têm
sido assinalados os casos em que o desenvolvimento é normal. Vários
autores têm discutido uma associação entre a hipsarritmia e psicose ou
entre hipsarritmia e autismo. A deteriorização do desenvolvimento
neuropsicomotor está presente em 95 % dos casos. O melhor prognóstico
ocorre nos 5% dos casos que permanecem com desenvolvimento mental.
O
prognóstico, mesmo nos casos tratados precocemente, permanece
reservado, observando-se em 90% dos casos a presença de deficiência
mental. Distúrbios psiquiátricos são freqüentes. Outras síndromes
epiléticas podem surgir, sendo que 50-60% dos casos evoluem para
síndrome Lennox-Gastaut, epilepsia multifocal ou epilepsia parcial
secundariamente generalizada.
Tratamento Clínico
Há uma
grande melhora dos espasmos infantis com uso intensivo do ACTH (hormônio
adrenocorticotrófico ) em suas apresentações injetáveis como: ACTHAR (
Corticotrophin) da Rhône Poulenc Rorer Pharmaceutical inc ou a sua forma
de H.P.ACTHAR Gel (Repository Corticotrophin injection).
Dizemos
que este tratamento pode ser heróico e interromper o quadro convulsivo,
porém só deve ser utilizado sob rigoroso controle médico e monitoramento
cardiopediatrico, já que os corticóides não agem apenas no SNC, mas
todo o organismo da criança, inclusive em seu sistema imunológico.
Segundo os autores Zajerman e Medina somente se utiliza esta medicação
em casos de Síndrome de West considerados criptogênicos, e não em
espasmos infantis resultantes de lesões cerebrais, por exemplo. Há casos
em que a resposta terapêutica pode aparecer em até 48 ou 72 horas após
aplicação de uma primeira dose do ACTH, podendo haver uma possibilidade
de recidiva de crises nos casos considerados mais graves na dependência
da precocidade do diagnóstico e da extensão e gravidade da lesão
cerebral associada.
Outros anticonvulsivantes têm sido utilizados,
isoladamente ou em combinação nos casos de espasmo infantis, como o
Clonazepam, o Ácido Valpróico, o Fenobarbital e o Vigabatrin.
Tratamento
Fisioterápico
Objetivos:
Equilíbrio da cabeça
Equilíbrio do
tronco
Seguir as etapas de maturação de acordo com cada criança.
Em
todo paciente com Síndrome de West precisa-se trabalhar primeiramente
extensão de cabeça e de tronco, para que depois, então a criança seja
estimulada a começar a rolar, arrastar, engatinhar, sentar, .. .Não
podemos querer que ela engatinhe, sem que ela consiga fazer extensão
cervical. O tratamento deve ser feito seguindo as etapas de evolução, de
maturação da criança.
Os exercícios fisioterápicos devem obedecer
as escalas de maturação. Tendo isso em mente, o fisioterapeuta pode
inovar e criar novas maneiras de serem realizados de duas formas:
Utilizando
a bola coloca-se a criança em DV apoiado com cotovelo em cima da bola, e
chama-se a atenção da mesma com um objeto a sua frente.
Deitado no
chão, também com um brinquedo à frente.
É importante saber que o
tratamento da síndrome de west é igual ao tratamento proposto a criança
portadora de paralisia cerebral.
Hidroterapia
Durante a
terapia em piscina, o calor da água ajuda a aliviar a espasticidade,
mesmo que o alívio seja temporário. Entretanto, a medida que a
espasticidade diminui, movimentos passivos podem ser administrados em
maior amplitude com menor desconforto para o paciente. Deste modo a
amplitude articular pode ser mantida.
Os movimentos passivos devem
ser efetuados lentamente e ritmicamente , começando com o tronco e
articulações proximais, gradualmente incluindo as articulações distais.
Os movimentos devem a princípio ser de natureza oscilatória e a seguir
de natureza rotatória. O tronco e os membros devem ser movidos em
padrões de movimento com inibição reflexa. O paciente deve respirar
profundamente e calmamente, e o momento do estendimento máximo deve
coincidir com a expiração. A principal dificuldade em obter uma fixação
estável para ambos os pacientes e o terapeuta. Em alguns casos pode ser
necessário um segundo fisioterapeuta para ajudar.
Tratamento
fisioterápico
O tratamento fisioterapêutico tem como objetivo
principal tratar as seqüelas ou tentar diminuí-las o máximo possível.
Como as complicações respiratórias existentes, deve-se fazer
fisioterapia respiratória.
Outro objetivo é tentar-se evitar as
deformidades que surgem ou amenizá-las, fazendo-se mobilização passiva e
alongamentos. Devido a hipotonia é preciso que se fortaleça os músculos
responsáveis pela respiração.
Bibliografia
AJURIAGUERR, J
de - " Manual de Psiquiatria Infantil ". Ed Atheneu, 1992 - 2 edição
LIPPI,
Jose Raimundo da Silva - " Neurologia Infantil " - 1987.
DYNSKI,
Martha Klin - "Atlas de Pediatria".
CAMBIER, J . MASSON, M e DEHEN, H
- " Manual de Neurologia" Ed Atheneu - 2 edição
retirado do
site www.interfisio.com.br
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