20/06/2012 - Izabel Maria Madeira de
Loureiro Maior*
Ao falar sobre desenvolvimento sustentável, não consigo separar o
componente humano do ambiental. O planeta poderia viver intocável sem
os humanos? Não poderia! Sem nós o planeta estaria incompleto, pois
somos parte do ambiente da Terra. Entretanto, há um aspecto que complica
a equação da sobrevivência ambiental: o desenvolvimento irresponsável,
desumano, desigual, injusto e predatório. São as corporações
transnacionais que exigem o crescimento econômico desenfreado sem o
desenvolvimento humano, resultante da inclusão social e a preservação
ambiental. Surge uma pergunta inquietante: será que cada pessoa entende
seu papel individual e importante no desenvolvimento sustentável?
Podemos responder preocupados – não parece que saibam. A partir dessa
dúvida, vamos nos ater ao segmento das pessoas com deficiência.
O mundo tem sete bilhões de moradores e poucos realmente conhecem o
risco da associação ao incorreto conceito que o habitat é infinito. A
grande parte ainda pensa que não é problema urgente conviver com o nosso
hospedeiro, sem vivermos como parasitas sem juízo.
Uma parcela de 15% das pessoas que reside na Terra apresenta alguma
limitação funcional, mas isso não precisa reduzir sua participação na
vida do planeta. De acordo com as estatísticas de cerca de 80 países, um
bilhão é o quantitativo de pessoas com deficiência (OMS/ONU, 2011). A
maioria sobrevive na pobreza, com dupla vulnerabilidade, refém de
discriminação, exclusão e da falta de oportunidades. São humanos
empurrados para fora do desenvolvimento sustentável. As pesquisas
específicas sobre sustentabilidade nada esclarecem sobre as condições de
vida e as demandas das pessoas com deficiência. Por sua vez, os
pensadores sobre inclusão social desse segmento pouquíssimas vezes
estabelecem a relação entre as pessoas com deficiência e o
desenvolvimento sustentável dos humanos e das formas diversas da
natureza.
A Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, deveria observar o que o preâmbulo da Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2006, diz: "g) Ressaltando
a importância de trazer questões relativas à deficiência ao centro das
preocupações da sociedade como parte integrante das estratégias
relevantes de desenvolvimento sustentável."
Os países provavelmente discutiram de forma insuficiente a inclusão
das pessoas com deficiência para o alcance do desenvolvimento
sustentável. Mesmo ao considerar inclusão social como pilar da
sustentabilidade, os documentos não mencionaram ou apenas enumeraram
pessoas com deficiência, mas sem compromisso. A promoção social, a
educação e a saúde para essas pessoas não foi tratada. O trabalho, a
capacidade de pesquisa e de proposição de novas tecnologias sustentáveis
por parte das pessoas com deficiência ficou de fora da agenda da
conferência. Nem beneficiários e tampouco agentes para o desenvolvimento
inclusivo – um bilhão de pessoas não farão parte das metas que vierem a
ser definidas pela Rio+20. Até quando esse contingente populacional
permanecerá segregado do futuro que nós queremos para todas as pessoas?
Ainda nos resta acreditar que o documento final da Rio+20 trará a
responsabilidade e a iniciativa de cada país quanto às pessoas com
deficiência.
Profa. da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e consultora de políticas públicas, inclusão social e
acessibilidade.
Fonte: Inclusive: Inclusão e Cidadania
Fonte: Inclusive: Inclusão e Cidadania
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Toda palavra é bem vinda!