MULHERES, DIREITOS HUMANOS HOJE E SUA EXCLUSÃO, em tempos pastorais...
Imagem publicada - uma
fotografia em preto & branco de minha autoria. Eu a fiz em uma esquina do
centro de Campinas, perto de uma Faculdade de Direito, onde se lê como aviso de
trânsito: PARE. E, sendo colada, por
algum cidadão ou cidadã, logo abaixo, as palavras: “de ser indiferente”. Um
apelo, criativo, necessário e urgente: PARE DE SER INDIFERENTE.
“Trespasse as montanhas, em
vez de escalá-las, escave a terra em vez de aplainá-la, abra buracos no espaço
em vez de mantê-lo uniforme, transforme a Terra em um queijo suíço”.
Gilles Deleuze e Félix Guattari (Mil Platôs – Mille Plateaux)
Há
uma indiferença massificada para a afirmação de que somos des-iguais, quando se
reflete sobre as condições da maioria das mulheres e seus Direitos Humanos. Temos, porém de reconhecer
que nessa invenção do Século XX: os Direitos Humanos, ainda não aprendemos muito
sobre o feminino e suas multiplicidades. Mas ficamos sabendo, impotentes, de suas violações e vulnerações.
Estive
forçado pelas minhas limitações humanas, assim como por um triste olhar sobre
como somos, como estamos e para onde caminhamos, in-diferentes, afastado do exercício
desta necessidade e urgência de escrever.
Somente
a minha própria re-leitura, olhando para o Feminino em nós, relembrando que o
ÚTERO É O MUNDO E O MUNDO É UM ÚTERO, é que decidi me forçar a “pena” árdua de
usar a pena, como diriam os que se escreviam as cartas de papel e tinta há
alguns séculos atrás.
Os
escritos indignados nem sempre trazem a força do que desejamos colocar ou expressar
através deles.
Hoje,
08 de março de 2013, estamos vendo como é possível a “venda”, sob o modelo
“utilitarista’’ do mundo capitalístico, aquilo que também pareceria invendável:
os direitos humanos.
Uma
venda que também pode ser dita como a mesma que impede a Justiça de enxergar
claramente e “direito” os nossos direitos sendo aviltados... A mesma Senhora
Vetusta que, por força desses vedamentos e pelo andar da carruagem da História
do mundo, caminha a passos rápidos em direções mais destras do que sinistras.
Um
pastor, que não é de rebanhos não dóceis, foi levado como oferta política para
a condução dos Direitos Humanos e das MINORIAS, no Planalto Central. As
Minorias, aquelas que se confundem com as marginalizações, foram excluídas em
uma “eleição” a portas fechadas.
E, para dentro de um espaço dito democrático,
mesmo que com as portas e os ouvido fechados aos protestos, sob contenção, do
lado de fora, o Deputado Federal Marco Feliciano foi “ungido” como presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
Lá fora gritavam deitados no chão, os expulsos
brasileiros e brasileiras: - NÃO PODEMOS CAIR NESSA CONTRADIÇÃO ESTATAL; UM
RACISTA, UM HOMOFÓBICO NÃO TEM COMO SE DIZER E AFIMAR UM DEFENSOR DESSES DIREITOS, AGORA, POR ELE
BEM- DITOS: HUMANOS. Assistimos a mais
uma encenação, no ventre dos Poderes, forjada evangélica e macro politicamente
E, caros amigos e amigas, que me desculpem, se
não entendi. O Pastor me/nos pede uma chance para provar sua capacidade de nos
defender?
Estou
nesses dias Marco Felicianos de Cristandades Falsas, embora descontente e
indignado, refletindo e repensando como homenagear as mulheres.
O
calor gerado pelas manifestações contrárias a este pastor, que não é de cabras
não cegas, me fez desejar que a DOÇURA OU A FORÇA FÊMEA, incluída em nossos
corpos e mentes, me possuíssem e reinstalassem meu desejo de outro mundo
possível. Um mundo da afirmação de nossos devires-mulher.
Ficamos
todos e todas, muito desiludidos? Talvez sim, no primeiro choque com a notícia.
E, após uma reflexão das minorias como potências, NÃO. Somos cientes de que as
alianças macropolíticas encenadas em nossas CÂMARAS, das municipais até as
federais, sempre foram urdidas para a manutenção de uma ORDEM e de um PROGRESSO.
Há e houve, entretanto, em nossa história
democrática as criações de brechas, rachaduras moleculares e os rizomas, que
espalhando indignação ou conscientização geram e geraram os pequenos furos
sociais, as linhas de fuga, por onde a liberdade se instalou e pode ser
vivenciada.
O
dia 08 rememora as mulheres que cruzaram seus braços e decretaram que não mais
iriam tecer ou fiar. Foi há mais de um século e meio, em Nova Iorque, na busca
da sonhada igualdade de condições de trabalho e das horas de fiação sob o
comando de homens.
As
mulheres, com sua força para fiarem, tecerem e, como as Penélopes, desfazerem
seus próprios tecidos, inclusive os mais fecundos de seus úteros, foram e são
também as protagonistas políticas dessas re-evoluções nas quais nos prendemos e
nos soltamos.
Hoje
são elas, como vi recentemente no campo da Medicina, que passam a ser o a
“maioria”. Porém permanecem, para além de sua crônica desqualificação
trabalhista e profissional, alguns estigmas que nos fizeram e ainda fazem torná-las
ainda bruxas ou feiticeiras. Hoje
inventamos fogueiras sutis e menos visíveis do que na Inquisição para “queimar”
suas diferenças.
Os
tempos digitais não descobriram o seu potencial feminino não analógico. Ainda
somos mecânicos com elas. Ainda as violentamos em muitos países, em diferentes culturas, mas com as mesmas
castrações e esterilizações.
Ainda,
como Freud, em 1933, nos surpreendemos com as MULHERES e suas capacidades, para
além da tecelagem de um tapete ou malha, feita por Anna Freud, sua filha-discípula e
solteirona. Segundo Sadie Plant: “Sigmund
Freud fez a tentativa final de solucionar o enigma da feminilidade...”.
Ele
escreveu “que as mulheres só deram umas poucas contribuições às invenções e
descobertas da história da civilização...”. Porém, foi uma de suas analisandas,
a analista Marie Bonaparte, que lhe salvou a pele diante do nazi-fascismo a
peso de ouro de Napoleão Bonaparte.
Como
diriam Guattari e Deleuze, o pai da Psicanálise se manteve apenas preso a um “olhar
edipiano”, reducionista e até ridículo sobre as mulheres, inclusive as que
formavam os primordiais círculos psicanalíticos. Mas o doutor Freud era do
Século XIX.
As
mulheres, diriam os dois anti-edípicos e visionários pensadores franceses, são
muito mais rizomáticas, relvas que se espalham, do que árvores com uma única e
sedentária raiz fixada ao chão, masculino e machista. São Gaia, são Terra.
“Um rizoma não tem começo nem fim; está sempre
no meio, entre coisas”. As relvas, as epífitas, as samambaias e os bambus, que
não respeitam territórios fixos, não têm raízes, mas rizomas.
Podem
crescer e se multiplicar subterraneamente, assim agiram Emma Goldman, Rosa de
Luxemburgo, Zuzu Angel, Sonia Moraes Angel, e muitas outras guerreiras ou revolucionárias.
São, foram e serão sempre “subversivas”.
Elas estão mais próximas das Folhas das Folhas
da Relva do poeta Walt Whitman, que em sua orientação sexual divergente já as
elogiava e reconhecia como as dobras das quais, desdobradas, vinham e virão nascer
os grandes homens.
Nascemos
delas, delas ainda, todos e todas, descenderemos. E não será um processo de
serialização por reprodução assistida em laboratório que as descartarão em
futuro próximo. O seu útero ainda é sua maior, inigualável e insubstituível
força. Até mesmo quando tentamos castrá-lo, mesmo que virtualmente.
Por
isso, temos de buscar essas Mulheres Digitais e Mãe-trix que nos superarão para
o futuro. Isso se não forem reprimidas, violentadas, condicionadas e
aprisionadas em nossos modelos binários e binarizantes de macho e fêmea.
O
Pastor ainda funciona nessa visão estreita e preconceituosa – homem é homem,
índio é índio, negro é negro, mas os homo-sexuais não são e serão além de
coisas aberrantes e anormais, também coisas demoníacas...
Como
algumas mulheres. E o casamento entre diferenças pode ser o fim da humanidade. Para
impedir essas aberrações só a família, com a mulher como propriedade do homem,
pode combater e reprimir esses desviantes ou diferentes seres.
Somos
e continuaremos sendo, humanamente e demasiado, muito além das limitações a que
nossos séculos de doutrinações, sejam políticas, ideológicas, religiosas ou
mesmo científicas, tornaram redutíveis às nossas superfícies biológicas e
sexuais.
Não
podemos esquecer, por Deleuze e Guattari, que o Estado e seus mecanismos de
controle biopolítico agem por conversão dos fluxos moleculares e desinstitucionalizadores
em segmentos molares, novas instituições.
Portanto,
não estranhemos que entreguem os Direitos Humanos para quem os viola. É a
reterritorialização estatal de nossos potenciais e desejos de revoluções
micropolíticas e moleculares. Os discursos sobre estes direitos não mais os
efetivam, apesar de serem interdependentes, sem ativa participação das chamadas
minorias.
A
maior profundidade que podemos atingir não passa de nosso maior órgão do corpo
humano: a pele. Por isso devemos combater, todos os dias, essas pregações de
cunhos fundamentalistas e de gênero.
Somos
múltiplos, como as mulheres, somos plurais e podemos ser muitos e muitos Outros
em apenas um de nós mesmos. O poeta Pessoa não me deixa omitir ou negar.
E, docemente, peço que não reduzam esta afirmação ao seu
cunho apenas de prosa ou poesia, pois é sim “poesis”.
Afirmemos
o sentido de poesis como geração, ou melhor, gestação, de muitas formas de
Vida, para além da visão de Vidas Nuas. Façamos os resgates que o Feminino
Plural deve tomar em suas mãos e corpos para que a trans-formação de nosso
mundo continue em marcha e evoluindo. O Futuro está nas mãos e corpos das
filhas, das filhas das filhas de minhas filhas...
Destas
que herdarão o que semearmos agora, seja em direitos ou em exclusões e miséria,
é que devemos esperar, para além do modelo reality-show da Sociedade do
Espetáculo, a construção de outra “gramática civil”, outra indispensável
liberdade e cidadania. Outros caminhos, outras veredas e cartografias do viver
e re-existir.
Copyright/left,
a destra e a sinistra, jorgemarciopereiradeandrade 2013=2014 (favor citar o
autor e as fontes em republicações livres pela Internet e outros meios de
comunicação de massa)
LEITURAS
INDICADAS NO/PARA ALÉM DO TEXTO E DO CONTEXTO –
MIL
PLATÔS Capitalismo e Esquizofrenia - Gilles
Deleuze & Félix Guattari – Editora 34, Rio de Janeiro, RJ, 1995-1997.
MULHER
DIGITAL – O FEMININIO E AS NOVAS TECNOLOGIAS – Sadie Plant,
Editora Rosa dos Ventos, Rio de Janeiro, RJ, 1999.
LEIA(m)
TAMBÉM NO BLOG –
O
MARTELO NAS BRUXAS – COMO “QUEIMAR”, HOJE, AS DIFERENÇAS FEMININAS?
MULHERES
SANGUE E VIDA, PARA ALÉM DE SUA EXCLUSÃO HISTÓRICA.
TODO
ÚTERO É UM MUNDO.
EUGENIA,
COMO REALIZAR A CASTRAÇÃO E ESTERILIZAÇÃO DE MULHERES E HOMENS COM DEFICIÊNCIA?
http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/01/eugenia-como-realizar-castracao-e.htmlFonte: http://infoativodefnet.blogspot.com.br/2013/03/mulheres-direitos-humanos-hoje-e-sua.html
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