A paralisia cerebral
dificulta a fala e a coordenação motora, mas não a produção intelectual
do psicólogo paulistano Emílio Figueira, 42.
A deficiência não o impede de estudar,
escrever, ler, atualizar seus sete blogs e ministrar aulas on-line.
Passa a maior parte do tempo em casa, no computador, no qual digita
usando só a mão direita.
Para ele, o empenho da sua família no
seu desenvolvimento foi um fator que o tornou um exemplo bem-sucedido de
inclusão.
Na década de 70, inclusão não era uma
palavra conhecida. O foco das instituições voltadas a deficientes era
adaptá-los à sociedade.
Hoje o modelo se inverteu: é a sociedade
que deve mudar para incluir os deficientes. “Até os anos 80, éramos
vistos como coitadinhos. Tudo era cultura assistencialista. Mas nos
organizamos e saímos do isolamento.”
Na adolescência, Emílio se mudou para
Guaraçaí, (397 km de São Paulo), onde frequentou pela primeira vez uma
escola regular. Vida normal! Nadava, jogava bola, ia a bailes. Viver
entre garotos sem deficiência foi essencial ao seu crescimento, diz.
Aos 16, teve o primeiro livro publicado,
de poemas. Não parou mais: calcula ter escrito 70, metade jogou fora. A
obra mais recente, “O Que é Educação Inclusiva” (Brasiliense, R$ 19),
trata de um dos seus temas favoritos.
A convivência entre pessoas com e sem
deficiência traz vantagens para todos, prega. “Se você educar uma
criança com deficiência entre iguais, não haverá estímulos. Mas, se ela
for para uma escola normal, se autoestimulará.”
Nas faculdades, diz ele, o pior é a
falta de material adaptado, como livros em braille: “Grande parte delas
faz vista grossa para isso. O caminho é fazer movimento”.
Emílio considera a legislação brasileira
sobre inclusão avançada, mas vê armadilhas na maneira como a Lei de
Cotas (obriga empresas com mais de cem funcionários a reservar 5% das
vagas a deficientes) vem sendo conduzida. “As empresas oferecem ou
cargos baixos ou com alto nível de exigência. E dão a desculpa que há
vagas, mas não há gente qualificada.”
Apesar das suas conquistas, há muitas
coisas que gostaria de fazer, mas não pode.Dirigir, por exemplo. “Falar
que eu levo uma vida totalmente normal é demagogia.”
O psicólogo conta que deseja viver uma
história de amor, e a internet é sua aliada na busca. Contatos virtuais
ajudam, segundo ele, a diminuir o estigma. “É possível conhecer a pessoa
por dentro antes do primeiro encontro.”
Emílio quer escrever um livro sobre sua
experiência nos sites de relacionamento. “Espantei Mais Uma!” será o
título. “Eu começava a conversa com as moças e na segunda mensagem já
revelava minha deficiência. A maioria nunca mais me respondia. Cheguei a
ter relacionamentos com duas, de uma gostei de verdade. Pensamos em nos
casar, mas a família dela não deixou. Mas não me abalo fácil: continuo
nos sites, tenho fé.”
Fonte: Folha Uol
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